segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Há anos Erivan Seixas (sósia de Raul Seixas) me convidava a participar do anual tributo ao “Maluco Beleza”. Por razões diversas eu faltava ao evento. Depois lhe dava algum tipo de desculpa pela ausência. Mas, este ano, diante da necessidade de “respirar ar puro”, viajei à terra dos Verdes Canaviais.
Não vou, aqui, dizer que sou membro da Sociedade da Gran-Ordem Kavernista – nem mesmo honorário. E confesso que sei, apenas, meia-dúzia de três ou quatro versos de uma ou duas músicas do homenageado. Na realidade meu “vício” é cinema e minha mania é John Wayne.
O certo é que eu fui a Ceará - Mirim e o quadro que vi por lá me impressionou: Erivan e um grupo de amigos - simpatizantes do homem que foi “mosca” na sopa de muita gente grande – organizaram (se é que se pode chamar de festa organizada, no sentido literal) o 21º Tributo ao “profeta psicodélico”.
Usando uma linguagem dita moderna eu diria que lá estavam todas as “tribos” e facções “raulseixistas”, infestando o ambiente com suas vibrações cósmicas. Na ausência do “contador da polícia” - como sempre falo – calculei mais de mil pessoas. Entre os que estavam pelo lado de dentro do Clube e os que preferiram curtir pelo lado de fora. Que, diga-se de passagem, estava tão animado quanto ao pé do palco. Muita gente bonita abrilhantando a festa – com seus chapéus, panos sobre as cabeças e “quem não tinha colírio, usava óculos escuros”.
O mandamento maior era a igualdade entre os povos. Negros; brancos, mestiços, pobres, ricos, “arremediados”, homens, mulheres, não tão “homens”, não tão “mulheres” dançaram embalados por diversas bandas que foram lá depositar suas “oferendas”, em forma de rock e baladas, a Raul Santos Seixas.
O “incenso” – aquele vindo do Nepal, e transado em camelô – dava o ar de sua graça. A julgar pelo meu apuradíssimo “olfato”. Mas nada que incomodasse. Como se diz por aí: “Faz parte”! E pensar que tudo começou sem nenhuma pretensão. Como uma simples brincadeira entre os amigos Erivan, Lisboa, Aragão, Ubiratan, Cláudio, Eliel, Jean dos Grogs; entre outros “fundamentalistas” de um Raul que simboliza (e para sempre representará) toda uma geração que “tinha medo, mas, estava com Deus”. E foi possível notar, no meio da multidão, gerações distintas que iam desde avós, passando pelos pais, e chegando a netos. Ou seja: Idades oscilando entre 60 e 14 anos. Pessoalmente me comovi vendo que 70% dos presentes estavam em uma faixa etária de gente que não viveu, de fato, os famosos “Anos de Chumbo”- quando se “andava falando de lado e olhando pro chão”, como diria outro poeta - do qual Raul era um dos “heróis da Resistência”. É bom lembrar que curti-lo, naquela época, não era para qualquer um. Era preciso transpor “barreiras”. Havia a censura militar, censura religiosa, e, por fim, a censura de casa. Mas, entre mortos e feridos, estamos todos aqui. Vivendo um Raul Seixas que eternizou seu legado, a meu ver, numa única frase: “O cantor morre, a música fica”.
Para concluir parabenizo a todos que fizeram aquele tributo acontecer. E deixo o registro que, em nenhum momento houve animosidade; confusão. Reinou a harmonia e a curtição a um cara que só queria que um disco voador o levasse a uma estrela, entre tantas que há por aí. E, quanto a mim, só posso dizer que a beleza da festa – que indiscutivelmente é um marco cultural daquela cidade - me fez senti a “energia” da paz de uma verdadeira Sociedade Alternativa.

Um comentário:

  1. Agradeço a publicação do texto no site do evento. Só para registrar, como curiosidade: eu "escrevi" este artigo durante a viagem de volta para casa, enquanto dirigia. Cheguei em casa, sentei diante do computador e os dedos fizeram o resto.
    Deixo um abraço a todos!

    Chico Potengy (F. César Barbosa) 18.10.2010

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